De Vera de Vilhena
Acabei ontem à noite a leitura deste extraordinário
livro. Que pena chegar ao fim!
Este livro, do género fantástico, mostra-nos a mestria de
Vera de Vilhena ao escrever, não só na forma, como no conteúdo, e na vastidão
de interpretações que pode suscitar. Que grande livro!
Não quero contar o enredo, para que a leitura não perca
a sua magia, mas posso dizer-vos as perguntas que em mim suscitou:
– É preferível saber toda a verdade, ou podemos viver
melhor com alguma dose de esquecimento?
– Esta vida que levamos, feita de pressas, corridas de
vária ordem, de angústias e contas (do que recebemos, do que damos, do que
poderíamos ter, do que outros têm), faz sentido assim, ou poderíamos trocar tudo
isto por um tempo mais tranquilo que nos permitisse apreciar cada dia como o
único?
– Quais os limites entre protecção e manipulação?
Queremos ser protegidos, ou não? E abdicamos de quê?
– A simplicidade pode, ou não, estar aliada à felicidade
real?
E poderia continuar…
Acredito que um livro que nos provoca, que nos deixa ora
a favor, ora contra, que nos obriga a pensar se, na mesma situação, faríamos o
mesmo, cumpre na íntegra o papel da arte: provocar, suscitar dúvidas, fazer
crescer, ganhar consciência do nosso mundo e do mundo dos outros.
Parabéns à Vera de Vilhena – espero que o próximo não
demore muito a aparecer!
Deixo-vos a sinopse, já que é pública… E mais não digo.
Leiam!
Nesta narrativa fantasiada, com um pé na
realidade, o leitor irá conhecer Mnemon, o rapaz que não dorme; Oto, o gigante
ciclope; Rigoletto, o Repórter; Organtina, a ninfa do lago; Eloque, o Orador;
Ratatosk, o corcunda; Furfuris, o duende doméstico…e muitos outros seres
tornados extraordinários, no dia em que Melquisedech os subtraiu ao Outro
Mundo, para lá do Mare Ignotum, e os levou para a Ilha de Sono, onde ninguém
entra e de onde ninguém sai. Encerrados na sua própria idade pela magia deste
druida feiticeiro, usam o talismã que os mantém protegidos, numa frágil cúpula,
a salvo de angústias e maldições. Habitam um lugar limpo e sedutor e têm a
profissão no nome. Ninguém nasce, ninguém morre. As mulheres usam a lã de ouro
dos rebanhos para esfregar tachos e escudelas. Cristalina, a Árvore do
Esquecimento, é o freixo que amadurece cristais multicolores, a moeda de troca
que as cuique suums entregam em cada
casa. Conseguirá Melquisedech manter este mundo perfeito, onde todos parecem
viver felizes?

Comentários
agradeci-te em privado, mas não aqui. Esta pequena grande crítica-opinião deixou-me muito feliz e vaidosa, pela conquista feita por este meu "filho de folhas". Que privilégio o nosso...!
Um grande beijinho!
Vera
Um grande beijinho para ti
Um grande beijinho para ti
hoje é que eu dei com o teu comentário :-)
Que bom, ainda bem que não ficaste quieta. Obrigada, mais uma vez, pela partilha desta tua leitura sensível e perspicaz. O segundo volume vai crescendo, devagarinho...
Um grande beijinho
Beijinhos grandes