Jornal de Letras, Suplemento de Educação - Os Meus Professores
"Confesso que fico mesmo contente de poder escrever sobre
professores que me marcaram. Podia falar daqueles que o fizeram no mau sentido,
mas não vale a pena. Sempre que os via pôr em prática uma calamidade
pedagógica, e tive essa consciência desde muito cedo, guardava a mensagem: ora
aí está uma coisa que nunca vou fazer a aluno meu! Espero ter conseguido manter
essa promessa ao longo dos anos.
Posso começar pela minha professora das 3ª e 4ª classes, a
Miss Mª Eugénia Sequeira, no Colégio Princesa Ana. Como era um colégio com
raízes inglesas, todas as professoras eram misses,
e nós achávamos isto normalíssimo. Lembro-me de muitas coisas, apesar de já
terem passado 42 anos! Quem era então esta mulher?
Era uma Educadora, sem dúvida. Foi ela que nos explicou a
razão se ser das cópias, por exemplo. Dizia-nos que isso permitia escrever cada
vez melhor, memorizando bons exemplos de pontuação e ortografia, de imagens, de
cuidado na escrita. Estava cheia de razão, e às vezes penso que esta tarefa faz
falta nos dias de hoje. Outro desafio era este: todos os ditados (que fazíamos
diariamente e com um prazer enorme) continham uma ou duas palavras que não
conhecíamos. Isso assustava-nos? Nada! Esta professora genial ensinava-nos a
adivinhar a grafia, relacionando com outras palavras conhecidas, ou pensando na
origem da palavra, ou até fazendo raciocínios (que ainda hoje faço) do género
“tanto o seguido, não deve ser, um
deles é um u, deve ser este”. E
realmente dávamos pouquíssimos erros.
Outra faceta deslumbrante e que resultava como mais um jogo,
era a sua forma de nos pôr a raciocinar. O cálculo e a resolução de problemas
era sempre uma brincadeira, procurando rasteiras e rindo ao descobri-las,
fazendo de cabeça um cálculo por alto, para depois aferir se o resultado era o
pretendido. Uma professora que nos ensinou a ser autónomas no raciocínio e na
execução, que nos habituou a ver para lá do óbvio. Aqui relembro igualmente a
professora de Matemática do Secundário, Ondina Santos, pois agia do mesmo modo,
o que me fez adorar para sempre esta disciplina. Empurrava-nos para a
descoberta, como se fôssemos Indiana Jones do raciocínio, o que era fascinante!
A parte de que guardo a melhor recordação é, sem dúvida a
forma como estas duas mulheres nos criticavam. Hoje em dia, talvez pudéssemos
dizer que haviam aprendido com Helena Marujo e Luís Miguel Neto, por exemplo.
Comentavam cada tarefa feita na perfeição com tanta alegria como a que nós
sentíamos, e cada desaire com uma frase de esperança que nos assegurava: hoje
não foi tão bem, mas amanhã será melhor. E resultava, claro. Assim aprendemos a
transitoriedade do erro. Não falhávamos como pessoas, apenas falhávamos a
tarefa, e isso demonstra a enorme sabedoria destas professoras. Motivavam-nos
para a competição intrínseca – a vontade de hoje ser capaz de fazer melhor do
que ontem, e a aceitação do erro como forma de aprender sem sermos derrubados.
Isto fez-nos crescer como pessoas mais equilibradas e preparadas para a vida. A
esta duas mulheres, deixo um enorme obrigada."

Comentários
Beijinhos grds
Obrigado Ondina!
Um beijinho, Chico